quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Café ao apertar de um botão



O boom de cafeterias a que São Paulo assistiu nos últimos anos fez com que os apaixonados por cafés de qualidade desejassem tomar, também, a sua xícara de qualidade em casa. Atentas à tendência, as empresas colocaram no mercado máquinas de café de uso doméstico cada vez mais sofisticadas – e capazes de fazer todo o serviço, com o aperto de um botão.

O maior desafio desses objetos do desejo é reproduzir um espresso, essa bebida concentrada, com crema espessa e persistente. “O espresso é um método cheio de variáveis, um verdadeiro milagre na xícara quando está bom”, avalia Isabela Raposeiras, da cafeteria Coffee Lab, em São Paulo. A barista, que testou seis modelos de máquinas para esta edição da menu, refere-se às condições determinantes para se obter uma boa xícara da bebida, como temperatura correta da água, moagem dos grãos e pressão da água no momento da extração, por exemplo.

Mas se engana quem pensa que, para isso, é preciso investir em máquinas domésticas similares às profissionais. “Esse tipo de equipamento não é uma boa opção, pois é destinado a um ambiente profissional e tecnicamente controlado, que não pode ser reproduzido em casa”, acredita Isabela.

Muitas máquinas domésticas de espresso disponíveis no mercado não exigem experiência. É o caso das que requerem cápsulas, como as da Nespresso ou da illycaffè, e as superautomáticas. Essas máquinas recebem este nome porque toda a extração do espresso é controlada pelo equipamento. Muitas delas, atualmente, permitem pequenas regulagens, como o grau de moagem dos grãos e a temperatura da água. Além de moerem os grãos na hora, as superautomáticas possibilitam, principalmente, a escolha de qualquer marca de café. “Elas custam mais do que as máquinas de cápsulas, mas o preço por xícara de café é muito menor”, diz a barista. O grão a ser usado, porém, deve ser o mais fresco possível, para não prejudicar o sabor e a crema da bebida.

As máquinas de cápsulas (estas, feitas de alumínio ou plástico), também têm vantagens. “Elas vêm com a dose e a moagem certa de café para os equipamentos em que funcionam”, explica Isabela. Bonitas, de tamanho reduzido e custo baixo, elas ainda fornecem ao café um ambiente mais hermético do que o papel e a embalagem de que são feitos os sachês. O ponto negativo fica por conta do custo por xícara: “Cada café de cápsula custa entre R$ 1,60 e R$ 3, enquanto os extraídos pelas superautomáticas não saem por mais de R$ 0,60”, calcula a barista. Além disso, prendem o consumidor a apenas uma marca de café.

Para a prova das máquinas de espresso superautomáticas, foi usado o mesmo café, torrado dois dias antes – para este tipo de equipamento, recomenda-se cafés com dois a sete dias depois de torrado (já as máquinas profissionais, requerem um prazo maior de descanso dos grãos após a torra). O grão selecionado foi torrado especialmente para o preparo de espresso. A quantidade de grão escolhida para a prova foi a maior oferecida pelo equipamento, e as extrações, feitas para duas xícaras de 30 ml cada uma.

As superautomáticas selecionadas para os testes têm as seguintes características em comum:

Aceitam cafés em grão e moído
Têm múltiplas regulagens de moagem do café;
Têm altura regulável da saída do café
Fazem leite para cappuccino
Possuem regulagem da temperatura da água e volume das bebidas
Ligam e desligam automaticamente
Fazem enxágue automático quando ligam e desligam
Aquecem rapidamente
Têm visor digital
Fazem extração simultânea de dois cafés

Dois dos modelos testados requerem cápsulas exclusivas para cada equipamento. Os cafés testados na máquina da Nespresso foram o dulsão do Brasil, Arpeggio e Cosi. A cápsula da illycaffè é a torra média. Práticas e eficientes, as máquinas de cápsulas têm o inconveniente de produzir um volume de lixo considerável a cada espresso extraído”, avalia Raposeiras. A manutenção desses equipamentos também é bastante simples.
Quanto à manutenção, esses equipamentos não requerem maiores cuidados.

Os critérios utilizados na avaliação dos espressos extraídos foram: qualidade da crema, sabor do espresso, facilidade de manuseio e programação, recursos disponíveis, temperatura do café e facilidade de manutenção. A execução do cappuccino não foi avaliada. “Ler o manual de cada equipamento é fundamental”, lembra Isabela Raposeiras, que conduziu os testes no Coffe Lab com os baristas Regina Machado, Renato Gutierres e Ton Rodrigues.


Nespresso Pixie

Preço: R$ 790 (nas cores vermelho, titânio e índigo)

O teste: A máquina tem design impecável, e a praticidade das cápsulas, aliada ao pequeno tamanho da máquina, é uma combinação interessante. A crema (de cor mais clara do que a correta) é bem expressa, mas sua consistência é levemente aerada, mais do que o ideal. A variedade de blends é boa, mas o custo por xícara é alto (de R$ 1,90 a R$ 3).

Jura ENA

Preço: R$ 2.950 (nas cores branco, vermelho e preto)

O teste: Bom espresso, encorpado e com boa crema, mas com bolhas um pouco maiores do que outros modelos da marca. Prática e silenciosa, é a mais rápida das máquinas avaliadas. Gosto da opção de regulagem de volume da bebida, inclusive quando ela está sendo extraída. Seu sistema de limpeza do grupo de extração é moderno e confiável. A máquina pede retrolavagem, após alguns cafés, com adição de uma cápsula específica para esse fim.

Saeco Syntia Cappuccinatore

Preço: R$ 3.699

O teste: Espresso com crema muito rala e cor clara, sabor desequilibrado e pouco corpo. A temperatura do café também deixou a desejar, mesmo quando regulada no grau máximo. Mais barulhenta e demorada do que as outras máquinas avaliadas. É compacta, de design bonito, mas a interface de programação e extração é complicada. O manual é confuso até para quem está acostumado a esse tipo de equipamento. A manutenção do grupo de extração de café é frágil, pois requer a retirada total para lavagem (que, neste equipamento, deve ser diária).

Delonghi ECAM 23.450S

Preço: R$ 3.999

O teste: O espresso surpreendeu, com boa crema (cor caramelo intenso), sabor encorpado e potente. Compacta e discreta, a máquina oferece vários recursos e opções de programação, disponíveis ao pressionar dos botões. Seu manual é de uso fácil e detalhado. O único inconveniente é que, para a lavagem, deve-se remover periodicamente o grupo (de onde o café é extraído).

Iperespresso Francis Francis! Y1

Preço:
R$ 1.070 (cores preta, vermelha e prata).

O teste: De todas os expressos avaliados, o da Francis Francis foi o que mais impressionou pela cor correta, com a tonalidade dos espressos extraídos nas melhores máquinas profissionais. A espessura da crema é média, e o sabor do café é intenso, equilibrado e encorpado, com amargor um pouco acentuado (mas não defeituoso), oriundo do estilo de um produto. De design bonito e inusitado, a máquina é fácil de usar.

Krups 7230


Preço: R$ 2.069
O teste: A mais compacta do grupo avaliado, tem design sóbrio e bonito. Ela tem menos recursos de programação e regulagem do que as outras, mas a extração do café é boa. Ele tem uma crema com tom adequado e um sabor potente. A temperatura da água é satisfatória. Não sei se o valor de venda do equipamento é baixo o suficiente para compensar a simplicidade de opções para extração do café.

Publicado na revista Menu, agosto de 2012