Vinhedos da Nederburg, vinícola oficial da Copa, em Stellenbosch
Ano recebendo diversas mensagens de importadoras com suas respectivas seleções de vinhos da África do Sul. Recentemente, a minha (nova) confraria faz uma degustação de vinhos brancos sulafricanos, comandada pela Alice Steyn, uma sulafricana que estudou enologia no país. Foi uma bela apresentação, mas o mais interessante é que o vinho "vencedor" custa baratíssimo. É preciso esclarecer, antes, que a votação dos confrades segue um critério de gosto, já que num painel deste tipo, mais amplo e que pretender dar a conhecer a variedade de estilos, não se pode comparar o incomensurável - Sémillon com Chardonnay ou Sauvignon Blanc.
Abaixo, segue a lista dos vinhos que degustamos. Também provamos ontem, no curso de sommeliers da ABS, dois exemplares muito bem elaborados (os números 6 - o mesmo da degustação com os confrades - e 9 da lista). Vale a pena provar, ainda, o vinho de sobremesa (número 10 da lista). Também aproveito o ensejo da Copa e reproduzo, aqui, a matéria que fiz para a revista Menu, que me enviou para essa missão tão especial que foi visitar África do Sul e provar diversos dos seus vinhos (além de andar de balão e montar um elefante, coisas que se faz uma vez só na vida!). E que vençamos no domingo!
1. Fleur du Cap Sauvignon Blanc 2008 (Casa Flora, R$ 54,49)
2. Stellenzicht Golden Triangle Sauvignon Blanc 2008 (World Wine, R$ 57)
3. Nederburg Twenty 10 Sauvignon Blanc 2009 (Casa Flora, R$ 31,20)
4. Pecan Stream Chenin Blanc 2007 (Waterford State, sem importação no Brasil)
5. Klein Constantia Mme Marlbrook 2004 (Expand, R$ 89)
6. Steenberg Sémillon 2006 (Expand, R$ 79)
7. Oracle Chardonnay 2008 (Pão de Açúcar, R$ 27)
8. Vergelegen Chardonnay Reserve 2004 (Expand, esgotado)
9. Kanonkop Wine State Pinotage 2007 (Mistral, US$ 65,50)
10. Nederburg Noble Late Harvest 1998 (Casa Flora, R$ 94,15, 375 ml)
Goles sul-africanos
Para os produtores de vinhos da África do Sul, a Copa do Mundo de 2010 servirá como uma grande vitrine dos tintos e brancos elaborados no país-sede do campeonato. A estimativa é que, no ano da copa, cerca de 10 milhões de pessoas visitem o país. A fama dos vinhos sul-africanos, entretanto, não é de hoje. Depois de períodos difíceis, a indústria vinícola ganhou novo fôlego na década de 1990, com o fim da política de segregação racial do Apartheid.
A África do Sul é o país mais antigo na produção de vinhos fora da Europa. Os primeiros vinhedos foram plantados em 1655, com a colonização holandesa, e o mercado desenvolveu-se com a chegada dos calvinistas franceses e suas técnicas de elaboração da bebida a partir de 1680. Os vinhedos, então, espalharam-se pela região banhada pelo Atlântico, ao redor da Cidade do Cabo, atual capital legislativa do país. No final do século 18, tornou-se famoso no mundo inteiro o vinho de Constantia: a bebida doce, elaborada com a uva branca moscatel, encantou a corte européia e personalidades como Napoleão Bonaparte e o poeta francês Charles Baudelaire. Na década de 80, o vinho voltou a ser produzido no país pela tradicional vinícola Klein Constantia.
Os séculos 18 e 19 foram conturbados para o cenário vitivinícola sul-africano — culminando com a praga phylloxera, que dizimou os vinhedos europeus, atravessou o oceano e atacou também as uvas do país. As cooperativas, criadas nos anos 1920, ajudaram a estabilizar a indústria de vinhos, sem preocupar-se, entretanto, com a qualidade das bebidas. Com o fim do Apartheid, os vinhos da “nação arco-íris” modernizaram-se, ganharam complexidade, refinamento, investimentos e consultoria de enólogos estrangeiros, estabelecendo-se no mercado internacional.
Em 2007, o país contabilizou 101 mil hectares de uvas plantadas, a maior parte delas concentrada nas regiões de Stellenbosch, Franschoek e Paarl, onde estão as vinícolas mais tradicionais. Ao todo, as cerca de 560 vinícolas do país — muitas delas com bela arquitetura colonial holandesa — produziram 730 milhões de litros em 2007, o que faz da África do Sul o 9º produtor mundial.
Assim como o Chile e a Argentina — que têm como uvas-símbolo, respectivamente, as francesas Carmenère e Malbec —, o país também possui uma uva emblemática, a típica Pinotage. Fruto de um cruzamento entre as uvas Pinot Noir e Cinsaut (antigamente conhecida como Hermitage), a Pinotage foi desenvolvida no país em 1925, e produzida comercialmente a partir da década de 1960. Tinta, escura e rústica, a Pinotage é motivo de controvérsias entre os enólogos. “Como pode ser elaborada em vários estilos, é uma uva complexa, difícil de compreender. Uns a amam, outros, a odeiam, embora sua aceitação internacional esteja crescendo”, explica Rasvan Macici, enólogo da Nederburg, em Paarl, um dos fãs da cepa. “Por isso, muitos produtores preferem elaborar vinhos mais fáceis de vender”, analisa.
A proporção de uvas plantadas na África do Sul é um dos indicadores das recentes apostas de seus enólogos. A internacional Cabernet Sauvignon ganhou espaço nos últimos dez anos: atualmente, é a tinta mais plantada, ocupando 12,8% dos vinhedos, seguida de Shiraz (9,7%) e da Merlot (6%). No mesmo período, a Pinotage se manteve estável (6%). “A Shiraz tem sido a grande beneficiária dessa tendência, embora a Cabernet seja a tinta mais popular”, avalia Macici.
É com a Cabernet Sauvignon, portanto, que o enólogo da Nederburg, elaborou os vinhos oficiais da Copa do Mundo. O Twenty 10, que está na fase de definição de seu rótulo, chega ao mercado sul-africano em 2009 e, depois, às prateleiras do Brasil e de países como Bélgica, Alemanha e Canadá. São três versões do vinho: um branco, feito com a Sauvignon Blanc, uva que tem rendido bons goles no país, um rosé e um tinto, ambos feitos com a Cabernet.
O Twenty 10 é uma das promessas para alavancar as vendas de rótulos sul-africanos no Brasil, que recebe 0,8% dos vinhos exportados pelo país. “Com o advento da Copa, esperamos dobrar as vendas no Brasil”, diz Linley Schultz, enólogo-chefe da Distell, um dos maiores grupos vinícolas do mundo, ao qual pertence a Nederburg.
E renderá bons goles para os que visitarem a África do Sul a partir do ano que vem – quer seja para assistir ao mundial ou para curtir safáris e prais paradisíacas, outros bons atrativos do país.
Meu primeiro leilão
Os jardins que circundam a vinícola Nederburg transformaram-se, em setembro, num imenso tapete vermelho. Por ele, desfilaram homens e mulheres elegantes atrás dos melhores goles sul-africanos que, durante dois dias, seriam arrematados no famoso leilão de vinhos do país. Vendidos em pequenas quantidades, os vinhos leiloados não estão disponíveis no mercado. São raridades, como o Monis Port 1948, respeitado vinho fortificado sul-africano, ou novidades, como as últimas safras dos vinhos brancos, bastante apreciados pelos enófilos.
O evento, que acontece anualmente nesta tradicional vinícola de Paarl, está em sua 34ª edição e atraiu este ano compradores de 15 países. O leilão de Nederburg, um dos cinco mais importantes do mundo, funciona como uma espécie de termômetro, regulando o preço dos rótulos que entrarão no mercado. Nem mesmo a inflação que atinge a economia sul-africana desde 2005 foi suficiente para tirar o brilho do evento, que arrecadou 4,7 milhões de rands (o equivalente a 1 milhão de reais, 10% abaixo do ano anterior), mas registrou um aumento no número de participantes.
A cada rodada, Stephan Welz, que também é leiloeiro da Sotheby’s, anuncia com voz contundente o preço mínimo de um dos 171 lotes deste ano. Entre os compradores, lá estava eu, acompanhada de um grupo de brasileiros amantes do vinho. Nossa disputa pelo lote com 24 garrafas do Edelkeur 1977, um delicioso vinho de sobremesa da Nederburg provado no evento, foi emocionante. As garrafas ainda não chegaram, mas ao serem abertas, trarão de volta o gosto doce do meu primeiro leilão de vinhos.
Reportagem publicada na revista Menu (dezembro/2008)
2 comentários:
Deve ter sido interessante conhecer as vinícolas da África do Sul, tenho tido muitas surpresas agradáveis com vinhos de lá.
Parabéns pelo seu blog - adorei o nome dele!
Leandro Ciasca - amigo do vinho.
amigo-do-vinho.blogspot.com
lenadro obrigada! foi sim, inesquecível. o país é lindo e os vinhos, como vc disse, muito interessantes. quanto ao nome do blog, é uma homenagem ao meu amigo que já nos deixou, o músico marcelo fromer. foi ideia dele, para um projeto que não pode ser levado adiante.
abraços
Postar um comentário