terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Julie e Julia, a (deliciosa) missão
Divulgação
Em dezembro, foram liberadas as primeiras imagens do filme Julie & Julia, em que a atriz Meryl Streep faz o papel da cozinheira norte-americana Julia Child. Recapitulando: o filme (com lançamento previsto para este ano), originou-se de um livro de Julie Powell (publicado eme 2005), uma escritora-blogueira que resolveu fazer, em um ano, todas as 524 receitas ensinadas por Child no seu já clássico Mastering the art of french cooking.
Como a minha estante ainda não tem o livro de Powell nem essa verdadeira bíblia gastronômica na América dos anos 60, fui à blogosfera atrás de informações sobre as obras, de mais notícias sobre o filme (o papel de Julie será da atriz Amy Adams que, para ser sincera, desconheço), visitei o blog da moça e acabei caindo na deliciosa reportagem da revista Time sobre a famosa cozinheira-apresentadora de TV. Eram idos de 1966, e lá estava ela na capa da prestigiosa revista (deve ter sido um arraso!).
Assim, depois da passagem pelo Brasil do vanguardista Adrià (que, aliás, foi o eleito do Roda-Viva de hoje), e da tradução para o português de As revoluções de Ferran Adrià, uma biografia bacana do jornalista Manfred Weber- Lamberdière, vamos tirar da gaveta a história de Child, a mestra de muitos?
Sem saber fritar um ovo, Julia Child casou-se e, residindo temporariamente em Paris por conta do trabalho de Paul, seu marido-gourmet (naquela época era "esposo", não?), decidiu enfrentar a cozinha e matriculou-se na centenária Le Cordon Bleu. Estava dada a partida para o seu estrelato na frente das câmeras e atrás do fogão: Julia comandou o The french chef , um tremendo sucesso da telinha. O segredo? Ela dá a primeira resposta: "A cozinha francesa é simplesmente um maravilhoso jeito de tratar a comida".
Senão, vejamos: estamos na América de 40 anos atrás - um país que começava a se preocupar com a obesidade nos dois gêneros e em dois níveis (estéticos e dietéticos). É o período, segundo o sociólogo Harvey Levenstein, do boom dos produtos "diet" e "calorie-reduced" entre os homens (principalmente os da classe média), o da contra-cultura (comidas naturais, sem pesticidas etc.), da vitamino-mania. Talvez a coisa toda tenha ficado tão insossa que as classes mais abastadas voltaram a atenção e o paladar para a cozinha francesa - uma espécie de "revival" do gosto e da comida fina como símbolo de status, tal como na virada do século 20.
Photobucket
É nesse cenário — que inclui ainda "novidades" como panelas de Teflon e modernas máquinas de lavar-louça domésticas - que surge Julia e seus ensinamentos de cozinha francesa que, segundo ela, é lógica, simples e boa. Em 1961, Julia publica Mastering the art of french cooking, em parceria com as francesas Louisette Bertholle e Simone Beck — em seu quinto ano, o livro virou um fenômeno de vendas: quase 300 mil cópias. Em 1963, suas receitas estrearam em preto-e-branco e em 1966 já cruzavam de uma costa a outra dos EUA por meio de 104 emissoras de TV. Parece que foi o primeiro programa educacional (isso mesmo) a ganhar um Emmy. "Se Julia menciona wafers de baunilha, as prateleiras dos supermercados esvaziam-se da noite para o dia", diz a reportagem. Todos cozinham com Julia... Ela também tinha jeito prá coisa: "Todas as mulheres deviam beijar seu açogueiro", ensinava. Se errasse - o que acontecia frequentemente - dizia: "Nunca se desculpe" ou "o molho ficará ainda melhor assim".
Quis ser jogadora de basquete e escritora. Fumava, trabalhava 13 horas diárias na produção do programa (o primeiro de muitos, que surgiram nas três décadas seguintes) e, preparando brioches e croissants, ficou tão famosa quanto James Beard — o "rei dos gourmets", que vendera 500 mil cópias de seus 14 livros e que "levou mais homens à cozinha antes de Child". "Há tantos pratos franceses maravilhosos que acho que não vou viver o bastante para fazê-los todos", disse à Time. Julia morreu em 2004 (o que ainda dará pano prá manga, ou melhor, mais posts neste blog).
Voltando à Julie e seu blog-que-virou-livro-que-virou-filme: a texana Julie, com 30 anos, mora no Queens (NY), trabalha como secretária e foge da monotonia ao criar o projeto Julie/Julia. Promete bastante humor e muitas receitas — Julie é (como já começaram a apelidá-la) uma espécie de Bridget Jones, só que das panelas. É esperar e conferir.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
Cris,
Adorei!
Parabéns
Ana -Revista Menu
Aninha, é você, querida?
Que boa visita, obrigada!
See you tomorrow...
Cris, acabei de ler sua matéria sobre as doceiras de goiás. Parabéns! Um texto delicioso sobre um assunto mais delicioso ainda. Eu pude experimentar os limõezinhos em Pirenópolis (não sei se é o original, mas era muito bom) e me apaixonei.
Abs
puxa, maisa, que bom que compartilhamos gostos! eles são inesquecíveis, não?!?
um beijo,
Cris, tudo bom? Obviamente você sabe que o Julia Cocina, quando abriu, foi obra da maravilhosa Paola Carosella aqui em Sampa. O que eu não sei se você sabe, é que o nome foi inspirado na Julia Child e eu estava no momento da escolha do nome. Éramos muito amigas então e tomávamos um vinho na casa dela. O restaurante ia se chamar Fresca, mas ela estava em dúvida sobre a conotação da palavra aqui no Brasil. A casa dela tinha livros por todos os lados, era só você esticar o braço e alcançava um. Então, num movimento preguiçoso, a Pao esticou o braço pra trás e agarrou um livro. Tinha uma foto dessas engraçadas da Julia com uma faca enorme na mão, com um bicho (parecia um bezerro) quase inteiro sobre a tábua de madeira, pronto pra ser cortado, e ela rindo aquele sorriso gostoso dela. então daí nasceu o nome do (antes) maravihoso Julia Cocina. Agora podemos "comer" a Pao lá no Arturito. Beijos
Ale, adorei esta historinha! sabia, não!!!
obrigadíssima pelo comentário!
beijos
Oi.
Amy Adams é a princesa do filme Encantada, da Disney.
Adorei a história toda, tomara que o filme seja bom.
Beijão!
Naum aguento mais a hora de vê o filme, logico espero vê a Meryl Streep, mas com certeza vai ser legal, será q jah sabem qdo estreio no EUA?
Estou louca pra ver esse filme, parece ser uma delicia de assistir!
So para constar Amy Adams e bem conhecida ja participou de filmes como "Encantada", "Prenda-me se for Capaz", "Duvida" que conta tb com a Meryl Streep, "Noite no Museu II" e ja recebeu 2 indicações ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por "Retratos de Família" (2005) e "Dúvida" (2008).
Postar um comentário