Na segunda edição de "Seja Bemvinho melhores do ano (pelo menos prá mim)", decidi apenas eleger uma seleção dos livros de gastronomia de que mais gostei em 2008 (restaurantes, vinhos e outras delícias que visitei ou provei em 2008 e sobre os quais ainda não postei entrarão sorrateiramente em 2009...!).
O impulso veio por meio da coluna Estante, que escrevo mensalmente na revista menu, e de tantas outras leituras que, pela viés mais acadêmico, pela especificidade do tema ou mesmo pela falta de espaço numa revista impressa não couberam lá. Vamos a ela (ah: 1. a relação abaixo não está necessariamente em ordem de preferência, mas apenas de lembrança; 2. pode ser que eu continue em posts posteriores, porque essa empolgação blog-literária acaba consumindo um tempão...).
1. Cozinha modelo - João Luiz Máximo da Silva (Edusp)
Um dos melhores lançamentos do ano, sério e bem escrito. O livro é resultado da tese de mestrado de João Luiz em história pela USP, e trata do impacto da eletricidade e do gás na casa paulistana - particularmente na cozinha - entre 1870 e 1930. O autor percorre uma vasta quantidade de documentos e escolhe bem suas obras de apoio, além de objetos (referidos academicamente como cultura material) para compor um quadro histórico preciso, bastante delimitado e muito interessante sobre as modificações ocorridas no ambiente doméstico na virada do século 19 para o século 20. Nesse período, a expansão cafeeira traz profundas modificações no que, até então, era um povoado, e que são fruto das transformações tecnológicas com a introdução dessas novas fontes de energia. Entre vários aspectos, João Luiz aborda os sentimentos contraditórios provocados pela chegada do gás (crença em seus poderes curativos e terapêuticos ao lado do medo de intoxicação); as novas formas de organizar o tempo e o espaço doméstico, com a mecanização da cozinha e a racionalização de seu espaço (não mais uma cozinha bandeirista, mas um espaço menor e integrado à casa, com fornecimento constante de combustível, diferentemente da finitude da lenha ou do carvão); o ideal de civilização e progresso embutido na utilização dessas novas fontes de energia (criadas a partir de capital estrangeiro); a propaganda higienista focada também no espaço da cozinha; os novos métodos de cozinhar, com um controle mais preciso da fonte de calor, e os novos padrões de nutrição. Imprescindível.
2. História do café - Ana Luiza Martins (Contexto)

3. O mundo é o que você come - Barbara Kingsolver (Nova Fronteira)
A narrativa de Bárbara Kingsolver em O mundo é o que você come flui bem melhor do que as águas que chegam do México à desértica e populosa Tucson, no Arizona.“Nós a bebemos, enchemos máquinas de café e preparamos sucos com um fluido que faria um girino ficar enjoado”, crava a jornalista e bióloga norte-americana. Por isso, parte com a família em busca de uma alimentação mais digna. Misto de memória e reportagem, o livro discute nossa conduta alimentar atual a partir da saga dos Kingsolver, que por um ano viveram sustentavelmente numa fazenda na Virgínia. Intercalando textos do marido Steven Hopp e da filha Camille, a autora não pretende ensinar a plantar batatas. Ao contrário, nos lembra que há milhares de pessoas como o personagem Malcolm, para quem as cenouras não brotam, mas são enfiadas na terra. (texto publicado na menu de agosto/2008)
4. Com unhas, dentes e cuca - Alex Atala e Carlos Alberto Dória (Senac)

Um comentário:
Cris, não sei se já comentastes estes, mas eu ganhei dois livros muito interessantes sobre Ferran Adrià em 2008. Um é da L&PM e se chama As revoluções de Ferran Adrià, escrito por um alemão, manfred Weber-Lamberdière. O outro é uma magnífica edição da Phaidon, A Day at ElBulli, que eu já apelidei de o Ulisses da gastronomia.
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