segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Os melhores de 2008


Na segunda edição de "Seja Bemvinho melhores do ano (pelo menos prá mim)", decidi apenas eleger uma seleção dos livros de gastronomia de que mais gostei em 2008 (restaurantes, vinhos e outras delícias que visitei ou provei em 2008 e sobre os quais ainda não postei entrarão sorrateiramente em 2009...!).
O impulso veio por meio da coluna Estante, que escrevo mensalmente na revista menu, e de tantas outras leituras que, pela viés mais acadêmico, pela especificidade do tema ou mesmo pela falta de espaço numa revista impressa não couberam lá. Vamos a ela (ah: 1. a relação abaixo não está necessariamente em ordem de preferência, mas apenas de lembrança; 2. pode ser que eu continue em posts posteriores, porque essa empolgação blog-literária acaba consumindo um tempão...).

1. Cozinha modelo - João Luiz Máximo da Silva (Edusp)
Um dos melhores lançamentos do ano, sério e bem escrito. O livro é resultado da tese de mestrado de João Luiz em história pela USP, e trata do impacto da eletricidade e do gás na casa paulistana - particularmente na cozinha - entre 1870 e 1930. O autor percorre uma vasta quantidade de documentos e escolhe bem suas obras de apoio, além de objetos (referidos academicamente como cultura material) para compor um quadro histórico preciso, bastante delimitado e muito interessante sobre as modificações ocorridas no ambiente doméstico na virada do século 19 para o século 20. Nesse período, a expansão cafeeira traz profundas modificações no que, até então, era um povoado, e que são fruto das transformações tecnológicas com a introdução dessas novas fontes de energia. Entre vários aspectos, João Luiz aborda os sentimentos contraditórios provocados pela chegada do gás (crença em seus poderes curativos e terapêuticos ao lado do medo de intoxicação); as novas formas de organizar o tempo e o espaço doméstico, com a mecanização da cozinha e a racionalização de seu espaço (não mais uma cozinha bandeirista, mas um espaço menor e integrado à casa, com fornecimento constante de combustível, diferentemente da finitude da lenha ou do carvão); o ideal de civilização e progresso embutido na utilização dessas novas fontes de energia (criadas a partir de capital estrangeiro); a propaganda higienista focada também no espaço da cozinha; os novos métodos de cozinhar, com um controle mais preciso da fonte de calor, e os novos padrões de nutrição. Imprescindível.

2. História do café - Ana Luiza Martins (Contexto)


3. O mundo é o que você come - Barbara Kingsolver (Nova Fronteira)
A narrativa de Bárbara Kingsolver em O mundo é o que você come flui bem melhor do que as águas que chegam do México à desértica e populosa Tucson, no Arizona.“Nós a bebemos, enchemos máquinas de café e preparamos sucos com um fluido que faria um girino ficar enjoado”, crava a jornalista e bióloga norte-americana. Por isso, parte com a família em busca de uma alimentação mais digna. Misto de memória e reportagem, o livro discute nossa conduta alimentar atual a partir da saga dos Kingsolver, que por um ano viveram sustentavelmente numa fazenda na Virgínia. Intercalando textos do marido Steven Hopp e da filha Camille, a autora não pretende ensinar a plantar batatas. Ao contrário, nos lembra que há milhares de pessoas como o personagem Malcolm, para quem as cenouras não brotam, mas são enfiadas na terra. (texto publicado na menu de agosto/2008)

4. Com unhas, dentes e cuca - Alex Atala e Carlos Alberto Dória (Senac)

Um comentário:

Anônimo disse...

Cris, não sei se já comentastes estes, mas eu ganhei dois livros muito interessantes sobre Ferran Adrià em 2008. Um é da L&PM e se chama As revoluções de Ferran Adrià, escrito por um alemão, manfred Weber-Lamberdière. O outro é uma magnífica edição da Phaidon, A Day at ElBulli, que eu já apelidei de o Ulisses da gastronomia.