terça-feira, 15 de setembro de 2009

De blog em blog...



Uma leitora deste blog me pediu para postar o texto que preparei para minha apresentação ontem, no encontro de blogueiros na Livraria Cultura. Aí está:

Nos últimos anos, os blogs têm despertado tanto interesse que até o presidente da república resolveu ter o seu: de olho no espaço virtual, escolheu um blogueiro-jornalista que trabalhava no Greenpeace e levou-o para Brasília. O blog do planalto estreou no dia 1 de setembro, com 27 mil visitas em seu primeiro dia de funcionamento.

Mas a blogosfera não parece um lugar tão grande assim. Como diz a blogueira Carol Costa, do blog Guindaste, “blogs pessoais são como aquelas casas em que a porta fica sempre aberta – quem vem da rua, nem precisa dizer "'ôôô de casa!' para ir entrando. Pode chegar, abrir a geladeira e fuçar as gavetas sem ser pego em flagra."

Blogs de comida, a princípio, podem lembrar uma receita. Daquelas que, se quisermos, podemos fazer a olho, sem medida, do nosso jeito. Pois, para o bem e para o mal, o blog é uma instituição em si – não tem patrão, nem horário, nem lauda a cumprir. Seu texto não precisa passar pelo crivo de ninguém antes de ir a público. A blogosfera faz com que todos pareçam iguais – os que cozinham, os que tentam cozinhar, os que criticam, os que os lêem, os que ensinam, os que aprendem. Não é preciso ser especialista, basta ser amador. Mas se a receita falhar, seu leitor será implacável, e te abandonará.

De diário íntimo, os blogs, nos últimos anos, também passaram a postar aquilo que seu autor pensa, não só o que vive. Segundo o Technorati, somos 33 mil blogueiros que escrevem sobre o tema. E temos bastante daquilo que os cozinheiros de vanguarda tanto valorizam: a cumplicidade.

Navegar pelos food blogs americanos, os mais visitados, comentados e ranqueados, dá uma ideia de como um simples prazer — o de participar de uma comunidade e partilhar informações sobre um assunto sobre o qual todos tem algo a dizer — pode se tornar um negócio altamente especializado – e lucrativo. O blog Simply Recipes, por exemplo, afirma receber 3 milhões de visitas por mês – um prato cheio para qualquer anunciante.
David Leibovitz é um confeiteiro que combina receitas e histórias sobre Paris, cidade onde vive há 12 anos. Chegou a receber 900 comentários em um único post – justamente o que anuncia, para o início do ano que vem, um encontro entre dez blogueiros, que conduzindo workshops sobre como tornar seu blog de comida melhor, mais atraente e mais visitado.

Chez Pim é conduzido pela a tailandesa Pim Techamuanvivit, que largou a vida no vale do silício e resolveu escrever sobre comida. Em 2007, relatou em seu blog as visitas a 23 restaurantes triestrelados pelo Michelin, circuito que fez em 6 semanas. Suas receitas e histórias apareceram nas páginas do New York Times, Food & Wine Magazine, Bon Appétit e vários outros impressos. Está lançando um novo livro e atualmente, conta com uma legião de 142 mil seguidores fiéis.

Alguns viraram mesmo celebridade: O caso mais famoso é o da novaiorquina Julie Powell, uma secretária frustada que resolveu fazer, em um ano, todas as 524 receitas ensinadas por Julia Child no clássico Mastering the art of french cooking. O blog virou livro, que virou filme, estrelado por Meryl Streep.

Há ainda os blogs de dupla jornada – os que, teoricamente, alcançam duas vezes mais leitores. Chocolate and Zucchini, um dos mais antigos blogs de comida, é feito por uma jovem parisiense, e tem posts em inglês e francês.

Mas alguns falam de comida para além das receitas e histórias pessoais. Foodpolitics, da respeitadíssima acadêmica da New York University, a bióloga e nutricionista Marion Nestle, analisa o impacto da indústria alimentar sobre a saúde da nação americana. O especialista em vinhos Tyler Colman, autor do Dr. Vino’s wine blog, venceu em 2007 o American Wine Blog Awards por seu trabalho que explora as relações entre vinho, economia e política.

Mas, o que faz um blog de comida ter sucesso? O que publicar, o que deixar de publicar, como aumentar as visitas no seu blog? Cada um tem uma explicação – ou uma receita. A mais comum é a que compara o blog a uma conversa na mesa da cozinha – a natureza familiar, imediata e casual da sua escrita. Diferentemente dos livros de cozinha e das revistas, que trabalham numa via de mão única, visitar blogs é como pegar uma dica de receita de um bom amigo.

Ao analisar o fenômeno em artigo para a revista Food & Wine, o editor-contribuinte Pete Wells diz que blogs dizem respeito tanto ao conteúdo que apresentam quanto àquilo que esse conteúdo representa para o seu próprio autor. “Quando blogueiros são capazes de fixar o discurso ao qual se propõe, sua audiência e popularidade irão aumentar”.

Pois a maioria dos blogs e de hoje está centrada em torno de um tema, e não de um personagem que narra sobre si. Embora histórias pessoais possam fazer a diferença, elas funcionam somente no contexto do assunto sobre o qual o blog decidiu tratar.
Também pela possibilidade de interatividade, os blogs têm um alcance que as mídias tradicionais não podem oferecer, nem mesmo quando permitem contato entre leitores e seus articulistas em seções como “carta ao leitor”.

Alguns avisam, porém, que blogar sobre comida não é prá todo mundo, mas somente para aqueles que querem participar de uma comunidade, que desejam feedback – pois a interação entre o blogueiro e o leitor é um componente-chave para a vida de um blog.
Blogar é, também, a possibilidade de propor algo diferente, como um “novo título” no mercado virtual. Lisa Fain diz que começou seu blog quando percebeu que não havia ninguém escrevendo sobre comidas que podiam interessá-la. Ela é a autora do Homesick Texan, de comida texana.

Mas para Wells, um blog de sucesso deve respeitar alguns limites. Para ele, os food blogs não deveriam competir com meios impressos, como por exemplo, ao fazer crítica de restaurantes. O crítico do NY Times é muito bem pago prá isso, além de dispor de uma verba altíssima, justifica ele. O que os blogueiros de comida deveriam, sim, fazer, é analisar, criticar o trabalho feito pela grande mídia. É uma opinião com a qual poucos blogueiros e leitores devem concordar. Mas há ainda muitas outras opiniões a serem postas na mesa. Afinal, segundo uma recente pesquisa da F/Nazca, somos 65 milhões de internautas no país - e todos gostamos de comer.

8 comentários:

Anônimo disse...

Mas, você falou basicamente de blogs estrangeiros. Tanto blog nacional linkado no seu e você não cita nenhum. E dou a dica do blog da Miss Kitchen que não aparece nos seus links.

Unknown disse...

bom, muitos não vão aparecer nos meus links, porque são quase infinitos! e não falei de blogs nacionais porque o evento contava com seus representantes que, por sua vez, iriam comentar a blogosfera brasileira.

Luciana disse...

Olá, Cris, parabéns pelo texto.

Infelizmente, eu não estava em São Paulo no dia do evento, pois certamente teria marcado presença por lá. Mas é muito sensato seu ponto de vista a respeito desse momento bacana que a blogosfera vive.

O que é muito interessante, de fato, é a cumplicidade. Com o leitor e com os outros autores. Porque todos nós nos indicamos, há lugar pra todo mundo. Há espaço para o debate saudável.

Um abraço e sucesso.

Unknown disse...

exatamente, luciana, é esse o espírito da coisa...
um abraço prá vc também!

Paula Pacheco disse...

Cris,
Desde que começei a dedicar uma parte do meu tempo no blog de culinaria, tenho aprendido a conviver com o carinho, dedicação das pessoas que querem te ajudar, te confortar e acima de tudo ensinar o que sabem fazer de melhor: cozinhar...esta sendo muito prazeroso...
bjs
Paula

Unknown disse...

paula, fico contente que sua experiência na blogosfera estejasendo tão boa! Seu blog está ótimo, parabéns!

Anônimo disse...

Cris, quando nem morava em São Paulo ainda vim pra cá para assistir ao Prazeres da Mesa em 2007. Encontrei você no banheiro, de calça e sutiã, retocando a maquiagem para seguir para outro evento. Você comentava com uma moça que era jornalista e tinha um blog... Escutei a conversa mas permaneci calada. Desde aquele dia acompanho seu blog, e posso dizer que depois de lê-lo fiz o meu também! Estive na livraia Cultura nesse Entre Estante e Panelas e fico super feliz de você te publicado sua colinha porque adorei tudo o que disse! Juro!

Anônimo disse...

P.S: Meu SONHO é ser best friend do Katsuki! (kkkkkkkk)