domingo, 12 de outubro de 2008
Estante
Memórias em taça
“Custo a crer que haja interesse suficiente no Brasil por minhas memórias profissionais”, escreve Jancis Robinson, na introdução à edição brasileira de um de seus livros, Confissões de uma amante de vinhos. A jornalista, editora e crítica de vinhos inglesa está enganada. Jancis é uma das maiores autoridades no assunto – e única mulher a gozar de tal prestígio num mundo de especialistas homens. Entre suas experiências com produtores e figuras famosas (como Hugh Johnson, com quem escreveu The world atlas of wine), ela relata o início de sua trajetória (“causada por genes impermeáveis ao álcool, herdados de minha avó paterna”), ao tomar um estupendo Borgonha nos anos 1970. Uma pena que o livro tenha demorado – ele foi lançado, originalmente, em 1997.
Jancis Robinson, confissões de uma amante de vinhos - Jancis Robinson - DBA (384 págs.) - R$ 42
Celebrando Escoffier
Relatos da vida de personagens gastronômicas são escassas por aqui. Por isso, bastante louvável a edição em português da biografia de Auguste Escoffier (1846-1935). Em Escoffier, o rei dos chefs, Kenneth James traça a carreira do célebre cozinheiro francês, que lançou sobre novas bases a moderna cozinha francesa. Suas contribuições, como a racionalização do serviço na cozinha, e a bem-sucedida parceria com o hoteleiro César Ritz são contadas sob o pano de fundo da época, em que imperam o ritmo incessante da modernidade e a elegância dos grandes hotéis. Seus pratos famosos, como os pêssegos Melba, persistem até hoje (ainda que mais em nome do que em execução). Embora o autor perca o fio da meada em alguns trechos em que descreve os costumes à mesa daqueles tempos, oferece ao leitor boa pesquisa, cardápios e notas autobiográficas de Escoffier.
Escoffier, o rei dos chefs - Kenneth James - Senac São Paulo (472 págs.) - R$ 65
Manifesto saudável
A narrativa de Bárbara Kingsolver em O mundo é o que você come flui bem melhor do que as águas que chegam do México à desértica e populosa Tucson, no Arizona.“Nós a bebemos, enchemos máquinas de café e preparamos sucos com um fluido que faria um girino ficar enjoado”, crava a jornalista e bióloga norte-americana. Por isso, parte com a família em busca de uma alimentação mais digna. Misto de memória e reportagem, o livro discute nossa conduta alimentar atual a partir da saga dos Kingsolver, que por um ano viveram sustentavelmente numa fazenda na Virgínia. Intercalando textos do marido Steven Hopp e da filha Camille, a autora não pretende ensinar a plantar batatas. Ao contrário, nos lembra que há milhares de pessoas como o personagem Malcolm, para quem as cenouras não brotam, mas são enfiadas na terra
O mundo é o que você come - Barbara Kingsolver - Nova Fronteira (274 págs.) - R$ 44,90
Resenhas publicadas por mim na revista Menu, de agosto/2008
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Um comentário:
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