terça-feira, 24 de novembro de 2009

Café na veia



Publiquei na menu, em maio, uma reportagem (reproduzida abaixo) sobre uma máquina de café que parece uma seringa de brinquedo, mas que faz uma tremenda bebida. A AeroPress é barata (relativamente falando), fácil de manejar e aceita qualquer grão - não é preciso "fidelizar", como acontece com a Nespresso e com a iperEspresso, da illycaffè. O melhor é que a extração da máquina, por incluir pressão, aproxima o café das características de um espresso. Retomo o assunto agora porque a maquineta está com novo visual - agora ela é transparente, e não mais azul -, e custa mais barato: R$ 135 (contra R$ 180 quando chegou ao Brasil). Você pode encontrá-la no Coffee Lab (antiga Academia de Barismo, tel. 11/3375.7400).

Depois da invenção das máquinas de espresso e das recentes e herméticas cápsulas de café, pode-se conjecturar se já não atingimos a perfeição na arte de extrair cafés. A resposta é negativa. Em 2005, o engenheiro mecânico e instrutor da Universidade de Stanford Alan Adler lançou no mercado uma máquina de café que combina as qualidades de um espresso com a facilidade de um café filtrado. O nome, Aerobie AeroPress, faz referência à empresa de brinquedos esportivos de Adler, a Aerobie, e seu produto mais conhecido, um frisbiee em formato de anel. O sucesso deste invento recreativo - que bateu o recorde mundial de distância e velocidade e atraiu fanáticos por esse esporte - parece se repetir com sua nova engenhoca destinada a extrair café, vendida aos milhares, em mais de 20 países.

Mundo afora, experts em cafés aprovaram a novidade, que acaba de chegar ao Brasil, com preço de R$ 180. Um deles é o especialista Kenneth Davids, editor do site Coffee Review e de livros sobre a bebida. "Ela produz um espresso melhor do que várias máquinas caseiras, que custam 20 vezes mais", avalia, em seu site. Dois anos de pesquisas e vários experimentos depois, Adler certificou-se de que alguns parâmetros eram as chaves para obter o melhor sabor do café. "Sabia que, ao diminuir o tempo de contato entre o pó e a água e produzir uma filtragem mais rápida, reduziria os níveis de amargor e de agressividade do café", explica o inventor, em entrevista à Menu, de Los Altos, Califórnia, onde mora.

Numa espécie de seringa gigante, o café é colocado em infusão por 10 segundos - tal como numa cafeteira francesa, mas diferentemente do café filtrado, isso permite um contato uniforme de todas as partículas do café moído com a água. Depois, o líquido é pressionado pelo êmbolo e o café é extraído através de um filtro de papel em sua base. "Ao contrário da água filtrada, a água pressurizada quebra moléculas de óleos essenciais e açúcares responsáveis por uma gama maior de aromas e sabores", explica a barista Isabela Raposeiras, colunista da Menu, que está importando o produto pela Academia de Barismo.

A combinação de filtragem rápida e pressão evita ainda a extração prolongada da cafeína, que traz o gosto amargo à bebida. Nos cafés filtrados, o contato do café com a água dura até 4 minutos (contra 30 segundos de extração de um espresso), o que pode resultar numa bebida mais amarga. Segundo Adler, testes de laboratório confirmaram o bom resultado obtido na xícara.

Com o café na xícara, descobre-se mais uma praticidade da máquina: sua limpeza é fácil, já que nenhuma partícula de pó de café permanece no interior da "seringa". "Passar" um bom café virou, agora, brincadeira de criança.


Reportagem publicada na edição 126 (maio/2009) da revista menu

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